Por Christiane Ribeiro e Marcos Rocha, diretores da Fábrica de Imagens
“A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer. ”
(Arnaldo Antunes)
Conversávamos com uma companheira por esses dias sobre a proximidade do aniversário da Fábrica de Imagens em meio às incertezas básicas que nos assaltam todo começo de ano, relacionadas à existência/sobrevivência de uma organização independente e autônoma, mesmo dentro do campo da esquerda, nesses tempos estranhos que vivemos. Ela nos perguntou: “Quantos anos mesmo? ” E nós respondemos: 24. Ao que ela retrucou com um sorriso: “A Fábrica está ficando velha! ” A conversa seguiu por outro rumo, entretanto esta frase calou fundo na gente, mas de uma maneira prazenteira. À noite, comentávamos entre nós, que bom que a Fábrica de Imagens tem a oportunidade de estar ficando velha, de nós estarmos ficando velhos com a Fábrica, essa senhora que nos viu sair da faculdade cheios de sonhos, viu nosso filho nascer e crescer, nos ensinou, nos trouxe amadurecimento, nos fez melhores.
Esta percepção nos fez avaliar o quanto não temos ao longo desse percurso valorizado e festejado essas passagens, os ciclos que se encerram e os ciclos que se iniciam, com tudo de bom e de ruim peculiares às mudanças. Sempre envoltos nas escritas de projetos, nas coordenações de ações, nas articulações políticas, nas elaborações de prestações de contas ou, simplesmente, em como vai ser o mês seguinte, não temos tido a oportunidade de encher nossos corações de contentamento, de festa, de alegria, tampouco comunicar, compartilhar esse júbilo, esse prazer que sequer conseguia romper certo senso de comedimento e sobriedade o qual nos impomos. Permanecemos sérios demais, preocupados demais, cuidadosos demais, como nos exige a lógica colonial-patriarcal-capitalista-burocrática, contra a qual lutamos diariamente.
São 24 anos, quase a metade das nossas vidas! É importante que afirmemos sim que esse é um marco e que é lícito e fundamental comemorar cada dia que a Fábrica de Imagens vive e os anos, tanto mais. Deixarmo-nos contagiar pela positividade que as mudanças de ciclo em todas as culturas nos remetem e comunicar e compartilhar essa alegria. 24 anos depois, a Fábrica de Imagens não é apenas uma “ONG”, é um pensamento, um modo de produzir, um modo de fazer política, um modo de construir processos para o bem viver. Erros? Sempre existem, mas eles não diminuem a intensidade de vetor que nos move, nem desbotam as cores dos caminhos construídos, nem impedem o florescimento após as estações tempestuosas.
É tempo de celebrar e também de agradecer a tantas pessoas que ajudaram a fazer da Fábrica o que ela é hoje. E é muita gente! Colaboradoras/es, alunas/os, parcerias, apoiadores financeiros, pessoas que estiveram nas mais diversas ações locais, virtuais e nas itinerâncias, a militância, as redes... Mas, em especial, gostaríamos de fazer um agradecimento a Auxiliadora Garcia, quem deu o primeiro passo, ainda em 1994 durante a pesquisa-ação “A face masculina do planejamento familiar”, para a constituição da Fábrica e, sem dúvida, cada um/a da nossa equipe atual, que tem se mantido firme em um contexto tão desafiador em decorrência da pandemia, do governo neofascista de plantão, dos entraves e perseguições impingidas contra quem atua no campo dos direitos humanos e da redução de aportes financeiros públicos.
Que venham novos anos, que floresça a esperança, que tenhamos leveza frente aos desafios e que continuemos na luta por uma sociedade justa, equânime, antirracista, despatriarcal, descolonial, anticapitalista e livre de todo tipo de preconceito, discriminações e desigualdades!
Christiane Ribeiro Gonçalves
Marcos Rocha
Diretores da Fábrica de Imagens
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